A utilização da Inteligência Natural no modo “deixa solto”

 

Vou explicar aqui como é o processo de elaboração de um desenho gerado por IN, Inteligência Natural. O desenho foi feito durante uma reunião, com lápis, numa folha de papel A4 que estava na mesa. No caso, não houve “prompt”. A coisa foi sendo rabiscada aos poucos, no modo “piloto automático”, meio sem pensar, e não tinha nada a ver com o assunto da reunião. A primeira coisa que risquei foi aquela espiral que está no alto da folha, e que um pouco depois se transformou num quepe de militar. Em seguida, rabisquei a cara do sujeito e o corpo, vestindo um uniforme todo engalanado, cheio de enfeites, que sempre são bons de desenhar. Enquanto esses rabiscos iam acontecendo, eu continuava a participar da reunião. A figura do militar ficou ali sozinha mas, depois de um tempo, me deu vontade de desenhar outro personagem para participar da cena e preencher o espaço vazio no papel. Então apareceu a figura de um velho hippie, com o punho fechado, em sinal de protesto. Mais uma vez, o desenho foi deixado de lado durante um tempo. E aí, de repente, do nada, apareceu na minha cabeça a imagem de uma cenoura sendo usada como punhal. Só tive que encaixar a cenoura no punho fechado do velho hippie. Aí “aconteceu a mágica”, como dizem os palestrantes especializados em criatividade…A imagem finalizada se tornou um retrato tragicômico dos embates entre o pacifismo e a boçalidade militarista. Nada disso foi pensado naquela hora, mas é claro que, no fundo, eu sou esse cara que empunha a cenoura.

*Isso foi publicado no zine digital TREVOUS. http://trevo.us

 

A primeira aula de tiro a gente nunca esquece

 

O doutor Darth Vader dos Santos e o pastor Herodes da Silveira estavam exultantes naquela manhã. Eles iriam levar os netinhos para a primeira aula de tiro. Vários colegas do PMPC (Partido Macho pra Caralho) tinham recomendado a escola Espingardinha Feliz como um estabelecimento altamente capacitado para a educação de jovens atiradores.

Diego, o netinho do doutor Darth Vader, tinha cinco anos, e Camila, a neta do Pastor Herodes, tinha quatro.

As crianças estavam na idade ideal para começar a atirar. Aprender tiro é como aprender línguas: quanto mais cedo, melhor. Mas os colegas de partido ainda não tinham dado nenhuma dica de cursos de inglês, francês ou espanhol.

Quando chegaram na escola, foram recebidos pelo diretor, o doutor Temístocles Fonseca, um senhor idoso, militar expulso das Forças Armadas, que na juventude tinha prestado serviços de consultoria para o Esquadrão da Morte, no Rio de Janeiro. O Doutor Temístocles foi logo tranquilizando os vovôs, dizendo que a escola não usava o método Paulo Freire. Ali ele adotava o método Brilhante Ustra.

Com muita paciência, o professor Temístocles explicou tudo sobre as partes do revólver e disse que, se eles apertassem aquele negocinho que se chamava gatilho, as balinhas sairiam por aquele cano. Naquele momento, os dois vovôs estavam muito empolgados, lendo nos seus celulares algumas mensagens nas redes sociais esculachando aquele general cadeirante. O professor Temístocles também se interessou e foi dar uma olhada no seu celular. Aí só deu tempo de ouvir o Dieguinho falar com a Camila: “Olha que legal! É por aqui que saem as balinhas!”. Quando o professor tirou os olhos do celular para ver o que acontecia, as duas crianças já estavam com os canos dos revólveres na boca. Depois dos disparos, pedaços dos pequenos crânios e miolos se espatifaram nas paredes do estande de tiro.

Antes de se despedir dos vovôs, o diretor avisou que ia adicionar na conta uma quantia relativa à despesa com a faxina do local.
Quando saíram da escola, o pastor Herodes da Silveira coçou a cabeça e comentou com o colega: “É como dizia o Jair: isso aqui só tem jeito com uma guerra civil… Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem. Em toda guerra morrem inocentes”.

 

*Texto publicado na Folha de S.Paulo em 2019.

Exposição com lançamento de livro em São Paulo!

Alô galera que gosta de arte, música e humor…Em dezembro, vai rolar na 9aArte Galeria a exposição PARADAS MUSICAIS E OUTRAS PARADAS. E o locutor que vos fala estará lá no dia da abertura, sábado 3 de dezembro, de 15:30h até as 20h, para lançar o livro Paradas Musicais, da Mórula Editorial.

A 9aArte Galeria abre às 14h. O endereço é : Rua Augusta, 1371, loja 113, dentro da Galeria Ouro Velho. E o apoio é da cerveja Beck’s.

A gente se vê lá.

 

 

 

 

 

 

O surto de indignação que virou exposição

ÁGUA SANITÁRIA SOBRE TECIDO

“No mês de dezembro de 2020, durante a pandemia de Covid 19, enquanto o Brasil e o mundo passavam por um processo de descaralhamento generalizado, Reinaldo Figueiredo sofreu um incontrolável surto de indignação que acabou dando origem a esta exposição online. Na verdade, de acordo com as pesquisas e estatísticas da época, o artista estava 22,3% indignado, 9,8% perplexo, 24,5% enojado e 43,4% puto da vida. Sem dúvida, os trabalhos refletem um alto nível de repugnância e ojeriza em relação à realidade político-sanitária, que se tornava a cada dia mais absurda e insuportável…Depois de meses vendo suas roupas ficarem totalmente manchadas por água sanitária, o artista achou que poderia usar esse tipo de suporte para uma série de novas obras (…)” 

Veja todos os textos e todas as peças lá no site do Espaço Corda. O link está aqui: https://espacocorda.com/loja/home/agua-sanitaria-sobre-tecido/

*O que for arrecadado com a venda das obras será doado para instituições que promovem educação musical gratuita para crianças no Rio de Janeiro.